Dedico este Post aos Profissionais de Jornalismo da Radio Integracao FM, Fernando, Leonardo e Peninha pela valorizacao da minha viagem.
Passamos quase todo o tempo em Cusco atualizando o Blog e dando mais uma volta na cidade para conhecer a área onde fica o povao, já que no centro só ficam os turistas e os profissionais que trabalham com o turismo.
Como já manifestei em post anteriores, o costume do povo é muito estranho e, desde a Bolívia, o transito nao tem organizacao alguma, prevalecendo a vontade dos moto-taxis de 3 rodas e com cobertura, vans e onibus que nao respeitam nenhum outro veículo.
Aproximadamente uma hora depois de sair de Cusco já estávamos procurando um local para dormi, quando deparamos com um gramado lindo. Paramos e pedimos para acampar o que foi prontamente autorizado. Depois das conversas iniciais o gestor do lugar nos mostrou o lugar do banho quente e outras facilidades do local. No dia seguinte fomos saber que aquele local era um campo de férias para criancas cuidadas por uma igreja evangélica e o gestor que autorizou o Pastor Baine Gonzales, diretor da instituicao. Segue uma foto do mesmo.
Frio no Peru (Redação para Jornal do Peninha)
Depois de
Machu Picchu e Cuzco, no Peru, dormimos numa colônia de férias administrada por
um Pastor Evangélico que nos abençoou antes de seguirmos viagem.
O dia
começou lindo, conforme benção pastoral. Debaixo do meu capacete divagava e
curtia aquela paisagem cheia de curvas e serras. Na parte da manhã subimos,
subimos e subimos; posteriormente, descemos, descemos e descemos a mesma serra.
Entre as treze e as dezesseis horas rodamos por uma estrada cercada por grandes
montanhas, num vale em cujo interior corria um rio de águas lindas, alternando
azul, onde era célere, e verde, quando o líquido descansava. Na medida em que o
rio entortava para fugir das pedras a estrada o acompanhava, entortando também;
proporcionando-nos curvas ora fortes e emocionantes, ora suaves e gostosas.
Pensei várias vezes: "pilotar é gostoso demais!".
Por volta
das 16 horas parei para abastecer e a moça frentista me advertiu: "Llene el tanque con gasolina octano
90, porque es mejor para quemar en las montañas!".
Segui a sugestão, analisei o mapa, fiz algumas indagações e cheguei às
seguintes conclusões: estávamos no pé da Cordilheira dos Andes e tínhamos pela
frente 175 km entre a subida, o ápice e a descida. Calculei que em três horas
romperia essa distância e chegaríamos por volta das 19 horas à cidade de Púquio,
situada do outro lado da montanha.
A partir
desse ponto começou o nosso sofrimento. Cheguei a blasfemar pensando que a
oração do Pastor tinha vencido, mas posteriormente o agradeci por estarmos
vivos. Começamos a escalada e o vento frio bateu forte aumentando na proporção
que subíamos e, inversamente, a Celestina diminuía a resposta ao acelerador. Retiramos
o filtro e mesmo assim não andava. Quando chegamos ao cume da cordilheira, uma
planície com aproximadamente 110 km de extensão, a moto conseguia andar a 50
km/h, mas não era constante, pois o vento quase nos jogava para fora da pista
ou, dependendo da posição da estrada, batia de frente, diminuindo o desempenho
e aumentando a força nos braços e o frio nas mãos.
A esperança
de encontrar uma vila era tão forte quanto o vento e tão intensa quão o frio,
até que apareceu uma casa ao lado direito da rodovia. Mas não foi possível
pousar por ali por causa das condições de insalubridade e periculosidade interna
e do vento externo. A construção desgastada era um ponto de venda de
combustível a granel, o piso absurdamente sujo, enlambuzado de graxa e o velho
casal que tomava conta do local cozinhava e dormia numa espécie de tablado
dentro da casa. Aproveitamos para colocar mais gasolina e seguimos viagem.
Depois de um tempo o vento
amenizou e a topografia mesclava algumas descidas suaves onde a velocidade
atingia até 80 km/h, mas logo a noite fortaleceu-se, negra e temerosa, trazendo
consigo uma densa neblina que praticamente anulava o farol. Felizmente, não
demorou muito a névoa dispersou e uma gigante e linda lua apareceu às nossas
costas, nos acompanhou no restante do percurso.
Depois que a neblina dissipou
comecei a sentir que a moto estava desestabilizada, como se o pneu traseiro
tivesse furado. Coincidentemente parei em frente a uma placa indicando 70 km
para a próxima cidade; pedi para a Edivânia verificar o pneu, mas estava normal.
Então lhe implorei que fizesse massagem nas minhas costas porque uma dor intensa
começara no braço e irradiava por todo meu lado posterior direito. Quando ela olhou
para meu dorso, exclamou: “Nossa, bem! Sua jaqueta está cheia de gelo!”. Foi
então que percebi que a instabilidade da Celestina decorria do gelo na pista.
O trecho remanescente foi
percorrido numa velocidade entre 20 e 30 km/h. A geada foi aumentando a ponto de
refletir no asfalto pelo clarão da lua e escorregava como sabão. Nesse ínterim descobri
que o suor que acumulara dentro das botas, enquanto no calor, tinha congelado e
incomodava severamente os dedos dos pés. Quanto aos dedos da mão,
repetidamente, parava e segurava com as duas mãos no escapamento para aquecer
as luvas. Além da dor muscular decorrente da pilotagem ainda sofria os efeitos
do “mal da altitude”.
Quando começamos a descer a
cordilheira o gelo da pista sumiu, a lua estava a pico e iluminava os
despenhadeiros e as curvas de 360º nas quais os caminhões nos ultrapassavam de
tão devagar, travado, cansado, duro e dolorido me encontrava.
Em Púquio paramos no primeiro
hotel, paguei e determinei que a Edivânia subisse, ficasse meia hora debaixo do
chuveiro quente, enquanto eu guardaria a moto e procuraria uma pizza para
saciar nossa fome leonina. O porteiro queria que eu enfiasse a moto num buraco
para não ocupar o estacionamento de carro, mas minhas forças eram
insuficientes, me fiz de desentendido, dizendo “Yo no hablo
español” e
saí deixando a moto na vaga do carro e o cara esbravejando. Quando entrei no
quarto com a pizza, minha companheira estava debaixo das cobertas com os lábios
roxos. Nunca passamos tanto frio como nesse dia.
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